A divulgação da "comunidade monastica comunhao e misericórdia", e toda a história real de santa Faustina e Jesus misericordioso.
Graciliano Ramos: um dos maiores talentos do
ciclo regionalista brasileiro
Graciliano Ramos nasceu em 1892, em Quebrângulo, Alagoas. Dois anos depois se
mudou com a família para a Fazenda Pintadinho, em Buíque, sertão de Pernambuco,
onde permaneceu até 1899. Em 1905 se mudou para Maceió, onde estudou por um ano
no tradicional Colégio Quinze de Março. Quando retornou àquela cidade fez o
segundo grau, mas não cursou faculdade. Em 1914 foi ao Rio de Janeiro, onde
pôde intensificar sua carreira jornalística. Depois de um ano retornou a
Palmeira dos Índios, pois soubera que seus três irmãos haviam morrido em
decorrência da febre bubônica. Lá se tornou comerciante, deu continuidade à
carreira de jornalista e ingressou na política. Tornou-se prefeito e exerceu
mandato por dois anos (1928-1930).
Em 1933 retornou a Maceió para
ocupar o cargo de diretor da Instituição Pública de Alagoas, conhecendo então
Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Jorge Amado. Em 1936, sob a acusação de
ser subversivo, foi preso pela ditadura Vargas, sofrendo horrendas humilhações
– experiências reveladas em sua obra “Memórias do Cárcere”.
Em 1945, depois de libertado,
fixou-se no Rio de Janeiro e não mais voltou ao Nordeste, época então que se
consagrou como um dos maiores romancistas brasileiros, considerados por muitos
o sucessor de Machado de Assis. Nesse mesmo período filiou-se ao Partido
Comunista Brasileiro. Com câncer, faleceu em 1953, cercado de muitos amigos e
muitas homenagens. Firmados todos esses pressupostos biográficos, passemos
agora a compreender seu perfil artístico, bem como as características que
nortearam a época em questão.
A segunda fase modernista,
também chamada de geração de 1930 (prosa) consolidou ainda mais as ideias
promulgadas pela primeira fase. Tal geração abordou as causas sociais de forma
veemente, como uma espécie de denúncia, de crítica social, frente à realidade
social brasileira, tendo a seca nordestina como alvo. Por tal razão, essa fase
foi considerada neorrealista, uma vez que retomou a observação que o homem
estabelece com o meio em que vive, não sendo mais um produto da raça, do meio e
do momento, ao gosto do Determinismo, mas um ser humano que vive em conflito
consigo mesmo.
Esses propósitos foram oriundos
dos posicionamentos ideológicos desses artistas, que tão bem souberam
representar o cenário artístico daquela época. Além disso, também houve
reflexos políticos de toda ordem, sobretudo em se tratando da revolta
oligárquica, que, após a derrota de Luís Carlos Prestes e a ascensão de Getúlio
Vargas, desembocou na instauração da ditadura do Estado Novo.
Como ressaltado anteriormente,
Graciliano Ramos, assim como tantos outros, foi vítima dos mandos e desmandos
ditatoriais que assolaram o país naquela época. Assim, por meio de seu romance
“Vidas Secas”, esse nobre autor descreveu de forma magistral sua indignação
diante da condição de miséria em que viviam os retirantes nordestinos. Dessa
forma, quando analisamos o nome que dera aos personagens da obra em questão
(Sinhá Vitória, sua mulher, a cachorra Baleia, o filho mais novo e o mais velho), constatamos que
ele, de forma irreverente e irônica, denunciou todo o contexto natural e social
ao mesmo tempo.
Vejamos, pois, um fragmento,
para constatarmos tal fato:
Os meninos sumiam-se numa curva do caminho. Fabiano adiantou-se para alcançá-los. Era preciso aproveitar a disposição deles, deixar que andassem à vontade. Sinha Vitória acompanhou o marido, chegou-se aos filhos. Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos; o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia esmoreceram no seu espírito. E a conversa recomeçou. Agora Fabiano estava meio otimista. Endireitou o saco da comida, examinou o rosto carnudo e as pernas grossas da mulher. Bem. Desejou fumar. Como segurava a boca do saco e a coronha da espingarda, não pôde realizar o desejo. Temeu arriar, não prosseguir na caminhada. Continuou a tagarelar, agitando a cabeça para afugentar uma nuvem que, vista de perto, escondia o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia. Os pés calosos, duros como cascos, metidos em alpercatas novas, caminhariam meses. Ou não caminhariam? Sinha Vitória achou que sim. [...] Por que haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias. Podiam viver escondidos, como bichos? Fabiano respondeu que não podiam.
Os meninos sumiam-se numa curva do caminho. Fabiano adiantou-se para alcançá-los. Era preciso aproveitar a disposição deles, deixar que andassem à vontade. Sinha Vitória acompanhou o marido, chegou-se aos filhos. Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos; o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia esmoreceram no seu espírito. E a conversa recomeçou. Agora Fabiano estava meio otimista. Endireitou o saco da comida, examinou o rosto carnudo e as pernas grossas da mulher. Bem. Desejou fumar. Como segurava a boca do saco e a coronha da espingarda, não pôde realizar o desejo. Temeu arriar, não prosseguir na caminhada. Continuou a tagarelar, agitando a cabeça para afugentar uma nuvem que, vista de perto, escondia o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia. Os pés calosos, duros como cascos, metidos em alpercatas novas, caminhariam meses. Ou não caminhariam? Sinha Vitória achou que sim. [...] Por que haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias. Podiam viver escondidos, como bichos? Fabiano respondeu que não podiam.
O mundo é grande.
Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam
que era grande –– e marchavam, meio confiados, meio inquietos. Olharam os
meninos que olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos. Em que
estariam pensando? zumbiu sinha Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou
uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas sinha Vitória renovou a
pergunta –– e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre
razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.
Vaquejar, opinou
Fabiano.
Sinha Vitória, com uma careta enjoada, balançou a
cabeça negativamente, arriscando-se a derrubar o baú de folha. Nossa Senhora os
livrasse de semelhante desgraça. Vaquejar, que ideia! Chegariam a uma terra
distante, esqueceriam a catinga onde havia montes baixos, cascalhos, rios
secos, espinhos, urubus, bichos morrendo, gente morrendo. Não voltariam nunca
mais, resistiriam à saudade que ataca os sertanejos na mata. Então eles eram
bois para morrer tristes por falta de espinhos? Fixar-se-iam muito longe,
adotariam costumes diferentes.
RAMOS,
Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 120-122.
Graciliano
também criou o romance “São Bernardo”. Por meio do personagem Paulo Honório,
revelou-se como um autêntico indignado e soltou a voz no sentido de denunciar
os infortúnios que a vida lhe causara, principalmente demonstrando que o
protagonista era um ser que subjugava todos à sua volta. Além dessas obras já
citadas, citamos também, como fruto de seu talento artístico, Caetés (1933),
Insônia (1947) Angústia (1936), e Viagem (1954). Por Vânia Duarte Graduada em
Letras
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