A divulgação da "comunidade monástica comunhão e misericórdia", e toda a história real de santa Faustina e Jesus misericordioso.
TEOLOGIA
DA GRAÇA
O Mistério
da Auto Revelação pessoal de Deus entre os homens
Introdução
A palavra «graça» “caris” possui
uma linda conotação lingüística. Os franceses a traduziram com um termo popular
charme – beleza, acentuando assim uma dimensão intrínseca da palavra graça.
Trata-se da superação do efêmero, do vulgar. No sânscrito antigo, a palavra
graça estava associada à palavra elegância que significa “andar vestido do
divino”, “vestir-se da divindade”. São Paulo não cessará de afirmar que o homem
novo é o homem «revestido de Cristo», ornado com a graça dele. O homem
agraciado é, portanto, o homem revestido de Deus. É o homem no qual se
reconhece facilmente as marcas do eterno, onde repousam as virtudes de Deus.
Portanto, “ser agraciado”, “estar na graça” relembra a condição fundamental do
homem, sua orientação primeira, o destino último de seu horizonte aberto pela
eternidade, tal fato recompõe um aspecto muitas vezes afirmadas pelas várias
filosofias antigas, que compreendia todo ser-existente como constitutivamente
marcados pelo bom, belo e verdadeiro.
Somente assim o homem escapa da
fugacidade vazia deste mundo, vence o tédio do não-sentido, supera a amarga dor
da violência e do ódio e se lança sempre no destemido mundo do além-homem.
Pois, a graça não é outra coisa senão a própria imanência dinâmica do
auto-superamento que o homem faz de si mesmo, dada na mais plena gratuidade que
o faz superar a si mesmo, sem precisar se ferir ou violentar-se, pois ela atua
em nós conduzindo-nos em duas direções: a entrada no próprio intimissimo eu e a
saída do eu em direção ao Tu supremo. “Por isto, o homem pode acolher a graça
de Deus não como uma verdade a ele estranha, contraposta, heterônoma, mas como
a verdade mais própria, mais íntima, não obstante ao fato de que esta jazia
escondida no mais íntimo (dele e de Deus) de tal forma que eu não podia
descobri-lo por si mesmo. E todavia o Deus que fala em mim é algo muito maior
que o «meu eu melhor». Por isto que esta graça não é estranha aos meus ouvidos,
ao contrário, ela é a coisa mais própria, mais íntima e mais próxima, ela é a
minha verdade, a verdade sobre mim, uma vez que ela é a palavra que me desvela
e me doa a mim mesmo”.
Deste modo, podemos dizer que a
graça reveste-se das características primárias e fundamentais de todo ser, é
aquilo que dá fundamento às coisas, que robustece o existir humano, que firma
os passos do homem e lhe desvenda horizontes abertos ao infinito, lançando a
ponte capaz de recobrir o abismo profundo entre o nosso existir concreto, neste
mundo, e o projetar natural de nossa aspiração para a eternidade. Também nas
Sagradas Escrituras, o termo ganhou lugar na teologia da criação e na imagem do
homem, revelada pela bíblia. O homem bíblico é reconhecido pelo primado da graça.
O homem bíblico se reconhece criatura agraciada, participante da bondade
divina. O Adão-homem é «o partner de Deus», o companheiro da graça divina, o
amigo de Deus. E como Deus é a graça o homem participa desta graça primordial.
São os laços da intimidade e da relação que estabelece a união profunda de Deus
conosco e de nós com Deus. Era este o significado teológico inicial da
compreensão bíblica do homem «imagem e semelhança de Deus».
“Tudo é graça!” (Palavras que se
atribui a Santa Terezinha do Menino Jesus! – Talvez pronunciadas em suas
últimas conversas!)? Pode exprimir bem a vida do santo ou do autêntico cristão
e também de todo homem justo! Mas não se pode usá-la de forma simplista, como
se ela justificasse tudo. De fato, não se pode negar as tristes experiências
cotidianas da des-graça, do absurdo, do não-sentido, do pecado, da violência,
expressões vivas daquilo que a tradição chamou de inferno, de aprisionamento do
pecado e que não são graça! 1 Cor 15,10. Paulo diz: “Pela graça de Deus sou
aquilo que sou!”. § CIC 1997: “A graça é
uma participação na vida de Deus. Introduz-nos na intimidade da vida
trinitária”. § O Filosofo J.G.Hamann do
séc. XVIII: “O Ser que originário é VERDADE, o ser que comunicado/participado é
graça”. § Santo Tomás de Aquino: “Quando se diz que um tem a graça de Deus, se
quer indicar um dom sobrenatural produzido por Deus no homem.
Contudo, às vezes se denomina
graça de Deus o mesmo amor eterno de Deus (STh I-II, q.110, a. 1). Mas sabemos
hoje que existe uma grande dificuldade em assinalar de forma precisa o conceito
de graça, sobretudo pelo fato de que o termo é o mais denso de significado
teológico, e Deus não se deixa aprisionar por conceitos e idéias. Mas é própria
da teologia se arriscar numa linguagem possível, ainda que limitada e às
apalpadelas do significado da Graça! A palavra graça não goza de uma reputação
unívoca no mundo moderno, “A palavra e o conceito da graça são hoje privados de
significado no mundo que assumiu totalmente o caráter da autonomia do mundo e
do homem”. “Como sujeito dogmático a graça tornou-se fórmula estática, e até
esclerosada da teologia. Palavra amorfa e estéril”, “Graça” parece associar-se
ao mundo feudal, ao sentido de vassalagem, realidade que hoje é totalmente
rejeitada pelo homem contemporâneo: Ela servia para exprimir a relação do
superior que concede “graça” ao inferior.
O curso faz parte da área de
teologia dogmática. Trata-se de um tratado de grande importância teológica. Uma
expressão que se aproxima da terminologia é a “caritologia” ou “gratologia”!
Mas esta expressão não teve sucesso. Na maior parte das escolas teológicas e
também de autores renomados da teologia, o tratado da graça à intrinsecamente
integrada ao estudo da antropologia teológica. Assim, alguns se questionaram se
era necessário e conveniente um tratado sobre a Graça. ? Vários teólogos dizem
que não é necessário. K. Rahner e E. Brunner são contrários a um tratado
especifico (Rahner em um artigo de 1966: disse que o De gratia é muito
particularizante e demasiado reducionista da Graça.). ? Mas existe sérias
motivações que fazem valer o tratado De Gratia, sobretudo, por focalizar-se no
eixo Téo-antropológico da teologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário