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O
secretário de Estado americano, John Kerry, visitará na próxima semana o Brasil
e a Colômbia, ainda sob efeito das acusações de espionagem por parte do governo
americano e do mal-estar criado pelo incidente com o avião do presidente
boliviano, Evo Morales, na Europa.
Na visita ao Brasil, marcada para a terça-feira, Kerry tentará
"superar" estes incidentes ─ nas palavras de um analista em
Washington ─ e retomar a agenda positiva com a América Latina iniciada este ano
pelo presidente Barack Obama. Agenda que incluiu uma visita de seu vice, Joe
Biden, ao Brasil e à Colômbia em maio. Gestos de boa vontade à parte, Kerry
deve chegar "preparado" para responder a questões a respeito das
acusações de espionagem reveladas pelo ex-analista da CIA Edward Snowden,
acredita o presidente do centro de análise política Inter-American Dialogue,
Michael Shifter. Nesta semana, os ministros de cinco países do Mercosul ─ entre
eles o brasileiro Antonio Patriota ─ insistiram no tema, ao manifestar na ONU a
sua "indignação" com o que chamaram de "sistema global de
espionagem" posto em funcionamento pelos EUA. Segundo as denúncias, o
Brasil é um dos principais focos desse sistema global.
Os ministros também denunciaram o "atropelo" da imunidade
diplomática do presidente Evo Morales, que teve seu avião bloqueado no espaço
aéreo europeu por suspeitas infundadas de que estivesse transportando Snowden. Esses
incidentes, avalia Shifter, foram um "retrocesso" na tímida
aproximação dos EUA com os países latino-americanos. "Mas não colocam o
relacionamento em risco, e Kerry fará o que puder para deixar estes temas no
passado e recriar a energia que existia há alguns meses, quando Obama e Biden
visitaram a região."
Percepções
O secretário planejava visitar o Brasil no fim de abril ou início de
maio, mas as tensões no Oriente Médio lhe impediram de encontrar espaço na agenda.
Parte da missão dele no país será avançar na definição da visita de Estado da
presidente Dilma Rousseff a Washington, marcada para o fim de outubro. "Kerry
precisa se focar mais na região e entender a perspectiva do Brasil é crucial.
Esta visita será uma oportunidade para isto." Michael Shifter,
presidente do Inter-American Dialogue Shifter acredita que Kerry tentará ainda
recalibrar as percepções sobre um país que permaneceu semanas abalado por
protestos sem que nenhum observador independente soasse um alerta antecipado. Semanas
antes, a visão do Brasil expressada por Washington ─ pela boca do próprio
vice-presidente Biden ─ era a de uma nação que havia deixado de ser emergente e
entrado no clube dos ricos. "Vocês não podem mais dizer que são uma nação
em desenvolvimento, vocês se desenvolveram", disse Biden em um evento no
Rio de Janeiro no fim de maio. Ele elogiou os programas sociais brasileiros e
qualificou de "espantosa" a transformação que acompanhou o
desenvolvimento econômico do país nas últimas décadas.
Engajamento regional
Antes do Brasil, John Kerry passará pela Colômbia, onde deve oferecer
apoio ao processo de paz com as guerrilhas conduzido pelo presidente Juan
Manuel Santos. Em nota, o Departamento de Estado disse que o secretário promoverá
a "cooperação e o diálogo com importantes parceiros regionais". Analistas
avaliam que, desde que substituiu Hillary Clinton no Departamento de Estado, no
início deste ano, o secretário tem tido pouco tempo para a América Latina. Mas
ele participou da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA),
em junho, na Guatemala, onde aproveitou para se encontrar com o chanceler
venezuelano, Elías Jaua, e diluir as tensões com o governo de Nicolás Maduro.
No entanto, isso foi antes do incidente com o avião de Evo Morales e a
oferta venezuelana de asilo a Snowden, que voltaram a imergir a relação
EUA-Venezuela em tensões. "Kerry precisa se focar mais na região e
entender a perspectiva do Brasil é crucial", opina Michael Shifter.
"Esta visita será uma oportunidade para isto."
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