A divulgação da "comunidade monastica comunhao e misericórdia", e toda a história real de santa Faustina e Jesus misericordioso.
Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. E a gravação é sempre realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O entrevistado desta edição do Poder e Política é dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB.
Dom Leonardo: Isso são agora, nos últimos quatro anos, essa mudança. Ela é muito significativa.
Folha/UOL: De 18 mil para 22 mil?
Folha/UOL: Isso, por parte, o sr. está dizendo, o sr. citou o caso da saúde. No caso do Ministério da Saúde, seria?
Dom Leonardo: Não. No Ministério da Saúde, graças a Deus, somos muito bem recebidos.
Folha/UOL: Seriam em alguns conselhos, é isso?
Dom Leonardo: Em um ou outro conselho.
Folha/UOL: O sr. poderia citar especificamente?
Dom Leonardo: Isso não é muito conveniente [risos]..
Folha/UOL: Mas tem havido isso?
Dom Leonardo: Eu sinto isso. Eu sinto uma certa resistência, sim.
Folha/UOL: Isso seria o quê? Do governo como um todo?
Dom Leonardo: Não, não sinto que seja do governo porque a interlocução que temos tido com os srs. ministros tem sido muito positiva. Nenhum ministro se recusou a me receber, por exemplo, quando eu pedi audiência. E mesmo nós temos ministros que têm vindo aos encontros, às reuniões da CNBB para debater.
Dom Leonardo: Eu não poderia fazer essa análise, mas às vezes, dada uma ou outra declaração, temos um pouco essa impressão.
Folha/UOL: Como o sr. resumiria a diretriz da CNBB a respeito das eleições municipais deste ano?
Folha/UOL: Secretaria Especial das Mulheres. Eleonora Menicucci.
Dom Leonardo: Pessoalmente, eu esperava mais do governo. Naturalmente, o jogo político no Congresso não é simples. As forças que ali dentro estão… Não é tão simples. Mas nós, como, CNBB nós gostaríamos que, realmente, nós tivéssemos um Código Florestal.
Dom Leonardo trata de temas relevantes para o Brasil
Secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, conversou, nesta quarta-feira, 18 de julho, com o jornalista da Folha de São Paulo e da TV UOL,
Fernando Guimarães sobre vários assuntos relevantes do momento político
e social que o Brasil se encontra. Confira a íntegra da entrevista que
foi publicada nesta quinta-feira pelo jornal paulista.
Leia abaixo transcrição da entrevista.
Narração de abertura: Dom Leonardo Ulrich Steiner
tem 61 anos. É o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, a CNBB, e também é bispo auxiliar de Brasília. Dom Leonardo
nasceu em Forquilhinha, em Santa Catarina. Entrou para a Igreja
Católica em 1972 na Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco
de Assis. Em 2005, dom Leonardo substituiu dom Pedro Casaldáliga como
bispo de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Em 2011 foi eleito
secretário-geral da CNBB e mudou-se para Brasília. Cabe a ele se
pronunciar em nome da entidade. Em 2012, por conta das eleições, dom
Leonardo deverá emitir opiniões dos bispos sobre temas importantes para
o mundo da política.
Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um “Poder e Política – Entrevista”.Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. E a gravação é sempre realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O entrevistado desta edição do Poder e Política é dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB.
Olá, Dom Leonardo. Muito obrigado pela sua presença. Eu
começo perguntando sobre o dado do censo que foi divulgado recentemente
a respeito da perda de fiéis da Igreja Católica na última década. A
Igreja Católica perdeu, segundo o censo, 1 milhão e 670 mil fiéis do
ano 2000 até 2010. Nesse período, em contrapartida, as igrejas
evangélicas ganharam, aproximadamente, 16 milhões de novos fiéis. Como
o sr. e a CNBB avaliam esses dados?
Dom Leonardo: Em primeiro lugar, obrigado pelo
convite e pela oportunidade de estar aqui com vocês e, ao mesmo tempo,
estar em contato com tantos internautas. Que Deus abençoe a todos
vocês, o trabalho e o serviço que prestam à nossa sociedade, ao Brasil.
Nós, em primeiro lugar, nos questionamos sobre o método usado [pelo
censo]. Nós não sabemos o método da pesquisa e isso é muito importante
para nós. Isso não quer dizer que não nos preocupamos com os dados que
chegaram às nossas mãos e que foram publicados. Os dados são
importantes. Os dados mostram uma realidade. Só gostaríamos de poder
ter mais elementos para podermos fazer uma boa análise. Que haja uma
perda de fiéis não é uma novidade. Se bem que tenha diminuído muito,
tenha diminuído muito as saídas. Por outro lado, nós sabemos também que
muitos que têm deixado a Igreja Católica não são pessoas ativas dentro
da Igreja Católica. Não são aquelas pessoas que participam ativamente
das nossas comunidades, que participam das nossas celebrações, que
participam dos serviços dentro da Igreja. Por outro lado, nós temos
também o dado nosso, da nossa pesquisa.
Folha/UOL: Qual é ele?
Dom Leonardo: Do anuário católico. Que ele tem
mostrado o crescimento do número de paróquias. Você só aumenta
paróquias se há um aumento de fiéis. Nós temos um dado do IBGE em
relação à população brasileira. Mas o anuário católico mostra que nós
temos também um aumento no número de fiéis ligado aos filhos que vêm,
eles são batizados, eles participam da vida da Igreja. Não só no número
de paróquias, mas nós temos um aumento de dioceses. Nós fomos de 18
mil, em torno de 18 mil sacerdotes. E hoje nós temos em torno de 22 mil.
Folha/UOL: De quando para quando?Dom Leonardo: Isso são agora, nos últimos quatro anos, essa mudança. Ela é muito significativa.
Folha/UOL: De 18 mil para 22 mil?
Dom Leonardo: 22 mil nos últimos dez anos. Esse é
um dado muito significativo. Então, o que, digamos assim, preocupa mais
a CNBB e a Igreja Católica é o número de pessoas que se dizem sem
religião. Isso preocupa mais. Isso porque alguém que se diz sem
religião, ele tem outra perspectiva, tem outro horizonte de leitura da
própria existência.
E depois, também, a migração que nós sentimos de uma igreja
evangélica para outra, porque esse fenômeno não é só da Igreja
Católica, mas de todas as igrejas chamadas “históricas”. Esse fenômeno
de saída. Mas, eu creio que isso tudo tem nos levado também a um
espírito missionário muito maior dentro da própria Igreja Católica.
Folha/UOL: No caso do censo do IBGE, o sr. acredita que os
números, pelo que o sr. está dizendo, possam não ser exatamente esses,
é isso?
Dom Leonardo: Porque não são todas as residências
visitadas. Nós, da CNBB, não fomos visitados. Então, nós sabemos que se
visita um determinado número de residência e depois se faz um
determinado cálculo. Então esse dado nós gostaríamos de ter em mãos
para podermos ter, assim, isso até nos ajudaria muito na avaliação
desses dados e mesmo, também, de como nós… refletirmos, de como
estudarmos e, mesmo talvez, como projetar alguma ação evangelizadora.
Folha/UOL: Mas o sr. concebe que, de fato, deve ter ocorrido
uma redução do número de fiéis da Igreja Católica nesses últimos dez
anos?
Dom Leonardo: Em relação à população brasileira, sim.
Folha/UOL: Foi a primeira vez a rigor… Porque o censo, é
claro que sempre há algumas residências que não são visitadas, é uma
pesquisa, é um levantamento muito amplo. Foi a primeira vez que o censo
apontou uma queda no número de católicos no país. Então, em certa
medida, tem uma metodologia que vem sendo seguida há décadas e a
expectativa, segundo os dados projetados pelo censo, é que talvez em 20
ou 30 anos a maioria dos brasileiros tenha preferência pelas religiões
evangélicas. O sr. acredita que essa projeção é correta?
Dom Leonardo: Não acredito que isso aconteça. Nós
teremos o fenômeno, que nós chamamos, muitas vezes, de um fenômeno
europeu. Nós temos o fenômeno que alcança as grandes cidades no Brasil
que é o número crescente de pessoas que se dizem sem religião. Esse é
um fenômeno, na Europa, marcante. A Igreja lá tem refletido e tentado
enfrentar essa questão. E nós, certamente, no Brasil, cresceremos nessa
linha. Mas eu sinto também que a CNBB, com as suas diretrizes de
evangelização, foi a primeira conferência episcopal a pensar uma
estratégia, pensar diretrizes, pensar em um plano de pastoral. Ela
também saberá enfrentar esse momento e nós temos tido, tivemos agora o
terceiro Congresso Missionário em Palmas, semana passada, e foi
impressionante a participação dos leigos. Hoje, nós temos no Brasil,
graças à Deus, uma igreja onde os leigos são muitos ativos. E os leigos
se sentem protagonistas como missionários, como missionárias, as
visitas às famílias, a leitura da palavra de Deus. Então não creio que,
no futuro, a maioria seja evangélica. Nós chegaremos a uma
estabilidade. Mas o fenômeno europeu também chegará ao Brasil. Nós
sabemos disso.
Folha/UOL: Nos números aqui, de acordo sempre com o censo do
IBGE, em 1980, 89% dos brasileiros se diziam católicos. Hoje seriam
64%. E os evangélicos hoje estão, segundo censo sempre, com 22%. O sr.
acredita que, então, o sr. acabou de me dizer não deve haver é esse
avanço daqueles que tem preferência pelas denominações evangélicas?
Acredita que agora há uma estabilização?
Dom Leonardo: Nem mesmo porque, também, os dados
tem mostrado que algumas dessas igrejas evangélicas já tem perdido um
grande número de pessoas também.
Folha/UOL: Quais, o sr. diria, são as medidas principais que
a Igreja Católica toma, ou deveria tomar, para evitar que ocorra uma
perda maior de fiéis?
Dom Leonardo: A preocupação principal não deveria
ser em termos de perda, de número. Nós nos preocupamos não apenas com a
perda de número, mas com perda de pessoas. Quer dizer, se numa família
falta alguém à mesa, nós sentimos falta. Eu creio que esse elemento
dentro da Igreja Católica deveria pesar muito. Nós batizamos. Eles
fizeram parte da nossa comunidade, ao menos pelo batismo, muitas vezes
também pela crisma e, depois, deixaram a mesa da família onde nasceram.
Então isso nos preocupa. Mas eu penso que as últimas diretrizes da ação
evangelizadora já indicam um pouco o caminho que nós deveríamos
percorrer. Em primeiro lugar, lá nós elencamos cinco urgências e a
primeira urgência colocada é que nós deveríamos ser uma igreja mais
missionária. Uma igreja que não pode mais ficar só esperando os seus
fiéis. Uma igreja que precisa sair. Uma igreja que precisa ir ao
encontro das pessoas. Uma igreja que visita as famílias, Uma igreja que
vai ao encontro das pessoas nos hospitais, nas prisões. Uma igreja cada
vez mais envolvida também com as pessoas de rua. As pastorais sociais
terem mais força do que já tem. As nossas pastorais sociais tem uma
força muito grande, mas creio que ainda poderíamos ser muito mais
engajados nesse sentido. E um elemento muito importante é, segundo a
urgência que é ali colocada, é a iniciação a vida cristã. Eu creio que
nós, como Igreja Católica, preparávamos as pessoas para a primeira
eucaristia, para a crisma. A tônica colocada de não prepararmos para
uma iniciação à vida sacramental, mas à vida cristã. O que significa,
realmente, viver como viveu Jesus Cristo. O que significa dar
testemunho de Jesus Cristo. O que significa anunciar o Reino de Deus.
Eu creio que aqui nós temos dois elementos muito importantes que nos
ajudarão no futuro a sermos uma igreja mais ativa e também, até diria
assim, conforme nós estamos celebrando os 50 anos do Concílio, mas uma
igreja, conforme o Concílio, muito atuante dentro da realidade social
em que nós vivemos.
Folha/UOL: Um aspecto muito visível da Igreja Católica para
a população geral tem sido a atuação dos chamados “padres cantores” ou
“artistas” como Fábio de Melo, da Ordem do Sagrado Coração, Marcelo
Rossi, da Renovação Carismática. O sr. acha que eles contribuem para a
inserção da Igreja Católica na sociedade e, se sim, como?
Dom Leonardo: Eu não diria que seria uma inserção
na sociedade. Ajuda a visibilizar, digamos assim, a Igreja Católica.
Ajuda a mostrar o rosto da Igreja Católica no sentido de que um padre
também pode ser cantor e, através do canto, levar a mensagem do
Evangelho, testemunhar o Evangelho. Os padres, que às vezes até
chamamos de “padres midiáticos”, eles ajudam a evangelizar celebrando
nas comunidades. Muitos dos cantos deles são também cantados nas nossas
comunidades. E também, digamos assim, certos momentos da Igreja em que
existe um grande número de pessoas reunidas. Eu não quero usar a
palavra massa porque ela não é conveniente nesse caso, porque é sempre
uma assembleia. Quando é uma missa é sempre uma assembleia que se
reúne, não é uma massa, não é um aglomerado, apenas, de pessoas. Isso
também ajuda. São manifestações públicas que nós somos uma Igreja. Uma
manifestação de um número maior de pessoas, como no caso aqui de
Brasília que fizemos no Corpus Christi, na festa de Nossa Senhora de
Aparecida. Isso visibiliza um pouco e também nós sentimos que traz um
ânimo para as pessoas que pertencem à Igreja Católica.
Folha/UOL: Um aspecto do ponto de vista comportamental,
social, sempre mencionado a respeito da Igreja Católica é que a
sociedade vem demandando atitudes mais liberais e a Igreja Católica tem
seus dogmas, suas crenças, suas posições e não abre mão delas. O sr.
imagina que pode haver flexibilização no futuro ou a Igreja Católica
vai se manter ainda por muitos anos como sempre esteve a respeito de
aborto, uso de contraceptivos e, por exemplo, casamento entre pessoas
do mesmo sexo?
Dom Leonardo: A Igreja sempre tem procurado
compreender a sua ação a partir do Evangelho. A Igreja, e a própria
CNBB, não tira da sua própria cabeça alguns elementos. Ela se deixa
inspirar no Evangelho. O Evangelho sempre será o Evangelho da vida.
Então, assuntos como, por exemplo, o aborto e a eutanásia não têm como
nós voltarmos atrás e fazermos concessões. Nós temos a nítida sensação
que com o passar do tempo, todas essas questões que devagar querem
fazer entrar, fazem com que o ser humano se torne descartável. Então a
finitude humana não quer mais ser abraçada. A finitude humana significa
também ter um filho excepcional, [o que] traz dificuldades. Então nós
estamos muitas vezes assim, na propensão hoje, do descarte de tudo
aquilo que não é do meu agrado, que não é da minha concepção, que não
facilita, digamos assim, as minhas relações e, com isso, também, muitas
vezes descartar essas dificuldades, essa finitude humana nos leva a
viver de uma maneira que não matura. Nós sabemos pelo cristianismo e
nós pregamos também Jesus Cristo crucificado e ressuscitado que a
finitude humana que nos matura como pessoas. Os embates da vida que nos
maturam como pessoas. Não é uma vida que vamos levando de qualquer
jeito que nos matura. Então, esse debate, apesar de muitas vezes sermos
acusados de não sermos modernos o suficiente, eu muitas vezes me
pergunto: Que modernismo é esse que começa a descartar a pessoa humana,
especialmente onde existe mais limite?
Folha/UOL: Tem um aspecto específico que é com relação a
contraceptivos, que antes eram só contraceptivos e hoje também são
instrumentos de saúde pública, sobretudo para grupos de risco de
contrair Aids. Nesses casos dos contraceptivos qual é a posição atual
da Igreja Católica aqui no Brasil?
Dom Leonardo: Nós temos uma declaração muito
importante do santo padre a respeito disso, falando da necessidade de
saber distinguir de quando realmente existe o que você chama de grupo
de risco. Então esses contraceptivos seriam possíveis. O que a Igreja
sempre defende é que não se pode sempre usar contraceptivos sem mais e
sem menos porque as relações, elas precisam sempre estar abertas à
vida. Sempre abertas à vida. E depois também muitas vezes os
contraceptivos são colocados em relação a uma não facilitação das
relações, sejam as relações mais íntimas, que são as relações mais
afetivas, como são as relações sexuais. Elas também precisam de
respeito, elas precisam também do seu tempo. Então muitas vezes se quer
facilitar o prazer simplesmente pelo prazer e às vezes os
contraceptivos vão pouquinho nessa linha. Mas em relação aos grupos de
risco, no sentido do cuidado da pessoa humana, tem uma declaração do
santo padre muito interessante. Até se fez um alarde nos meios de
comunicação dizendo que o papa agora seria a favor. Mas era justamente
colocando essa questão da vida humana de novo, da saúde humana, da
pessoa humana como um todo.
Folha/UOL: Queria falar um pouco de política com o sr. como
tem sido a relação da CNBB, da Igreja Católica, com a presidente Dilma
Rousseff?
Dom Leonardo: Uma relação, diria, normal. Uma
relação de muita liberdade. A presidente tem nos dado muita liberdade
de dizer o que pensamos. Isso é sinal de maturidade. A CNBB não tem se
furtado em levar ao governo os problemas. Também não tem se furtado de
dizer o que pensa através das notas. Mas também, na interlocução do
governo, nós temos procurado levar a questão, por exemplo, a questão
indígena, a questão da violência, a questão em relação às famílias, a
questão dos jovens. Mas a presidente tem nos dado muita liberdade e
creio que existe um respeito. E também da própria presidente nós
sentimos um desejo de nos ouvir. Eu creio que é uma relação de
respeito, uma relação madura.
Folha/UOL: O sr. assumiu seu posto na CNBB recentemente, em
2011. Mas seria possível comparar como era a relação da Igreja Católica
com governos e presidentes anteriores? Se melhorou, piorou ou está
igual?
Dom Leonardo: Eu não saberia fazer essa avaliação.
Mas, a sensação que eu tenho… Também não sou bispo há tempo, né? Eu sou
bispo, agora, há oito anos. A sensação que eu tenho é que os governos
sempre procuraram ouvir a CNBB. E a CNBB nunca se furtou de levar ao
governo as questões das populações, sejam elas indígenas, dos
quilombolas, dos ribeirinhos. Mas há outras questões também sociais que
dizem a respeito da população brasileira. E às vezes até com notas que
alguns consideram um pouco duras. Mas faz parte. Eu tenho a impressão
que no período que estamos vivendo de democracia, os governos tem
procurado ouvir. Naturalmente, nós sentimos também, não quer dizer isso
no primeiro escalão, mas temos sentido também alguma dificuldade de
relação, dada a questão que se chama, tem se dado o nome de “o Estado
laico”. Dizer que a Igreja não deve interferir em determinados…
Folha/UOL: O sr. tem sentido uma dificuldade de que ordem?
Dom Leonardo: Às vezes, a nível, por exemplo, de
participação nossa nos conselhos. O sr. sabe que a CNBB participa em
diversos conselhos, tem seus representantes, por exemplo, na [área da]
saúde nós temos representante, a CNBB tem representante. E nem sempre
aquilo que nós não estamos lá para fazer uma pregação, digamos assim. A
nossa participação como CNBB, é claro, a partir dos princípios do
Evangelho, é ajudarmos a melhorar a saúde da população, melhorar a
segurança da população, darmos uma assistência maior.
Folha/UOL: Mas há algum impedimento para que a CNBB participe?
Dom Leonardo: Existe uma espécie de resistência, sim. De que não é muito tarefa religiosa ou uma tarefa da Igreja.Folha/UOL: Isso, por parte, o sr. está dizendo, o sr. citou o caso da saúde. No caso do Ministério da Saúde, seria?
Dom Leonardo: Não. No Ministério da Saúde, graças a Deus, somos muito bem recebidos.
Folha/UOL: Seriam em alguns conselhos, é isso?
Dom Leonardo: Em um ou outro conselho.
Folha/UOL: O sr. poderia citar especificamente?
Dom Leonardo: Isso não é muito conveniente [risos]..
Folha/UOL: Mas tem havido isso?
Dom Leonardo: Eu sinto isso. Eu sinto uma certa resistência, sim.
Folha/UOL: Isso seria o quê? Do governo como um todo?
Dom Leonardo: Não, não sinto que seja do governo porque a interlocução que temos tido com os srs. ministros tem sido muito positiva. Nenhum ministro se recusou a me receber, por exemplo, quando eu pedi audiência. E mesmo nós temos ministros que têm vindo aos encontros, às reuniões da CNBB para debater.
Folha/UOL: Será que a CNBB não deixou passar muito tempo em
relação a ter uma presença mais marcante na política. Por que eu
pergunto isso? Algumas igrejas apressaram-se e hoje têm partidos que
são muito relacionados a elas, sobretudo as igrejas evangélicas. É
notória, por exemplo, a ligação da Igreja Universal do Reino de Deus
com o partido PRB [Partido Republicano Brasileiro], uma relação muito
próxima, são muito ligados. Agora apareceu um novo partido, o 30º que é
o Partido Ecológico Nacional e que também tem uma relação próxima com
uma igreja. A CNBB e Igreja Católica deveriam ter uma atuação mais
direta na política, na sua opinião?
Dom Leonardo: Nós temos uma atuação muito política.
Nós temos na CNBB, inclusive, uma Escola de Fé e Política para
prepararmos os leigos. Agora, a CNBB nunca vai querer fundar um
partido. Nós acreditamos que nossos irmãos que professam o Evangelho,
que aceitam o Evangelho e que vivem na Igreja Católica, eles serão as
pessoas que podem levar ao Congresso Nacional e mesmo em outras
instâncias no Judiciário, por exemplo. Também, nós temos muitas pessoas
que são da Igreja Católica e defendem os princípios. Nós pensamos muito
mais nesse tipo de presença do que de partido político. Partido
político começa muitas vezes a reivindicar para si alguns elementos. Eu
penso que o Evangelho é muito mais abrangente do que um partido
político. A Igreja Católica é muito mais abrangente. Ela poderia, como
partido político, começar a trabalhar em benefício de si mesma ou CNBB
em benefício de si mesma, direito para si mesma.
Folha/UOL: O sr. acha que isso ocorre, talvez, com esses outros partidos?Dom Leonardo: Eu não poderia fazer essa análise, mas às vezes, dada uma ou outra declaração, temos um pouco essa impressão.
Folha/UOL: Recentemente houve uma polêmica sobre uma
proposta que o Governo teria de vetar o aluguel de espaço em emissoras
de televisão. Esse aluguel de espaço que é, em geral, muito usado por
várias igrejas. As igrejas evangélicas protestaram. Para a Igreja
Católica faria alguma diferença?
Dom Leonardo: Nós não protestamos assim como
fizeram as igrejas evangélicas, mas também demonstramos a nossa
posição. Quer dizer, nós temos essas emissoras, elas são estatais, mas
nós não podemos esquecer que elas são da sociedade. O que é um Estado?
O Estado, pelo Estado, não existe. O Estado só existe porque existem
pessoas. Quer dizer, o Estado existe porque existe uma população. Então
essa vontade de querer garantir ao Estado está garantindo a quem, de
novo? Está, às vezes, a um determinado grupo que pensa o Estado daquela
forma. Então, nesse sentido que nós também acabamos nos pronunciando,
nos manifestando não assim, publicamente, com essa veemência toda.
Folha/UOL: Dom Leonardo, e essas eleições municipais deste
ano 2012 que ocorrem agora em outubro? A CNBB planeja se manifestar de
alguma forma a respeito de como os seus fiéis devem atuar nessas
eleições?
Dom Leonardo: Nós já nos manifestamos na nossa
assembleia celebrada em Aparecida [SP]. Nós emitimos uma nota até
bastante longa e temos também um pequeno subsídio de orientação que não
foi publicado diretamente pela CNBB mas pela Escola de Fé e Política da
CNBB.Folha/UOL: Como o sr. resumiria a diretriz da CNBB a respeito das eleições municipais deste ano?
Dom Leonardo: Votem em ficha limpa. Votem em ficha
limpa. Foi uma longa batalha, na qual a CNBB se engajou, a Igreja toda
se engajou, tantos seguimentos da sociedade se engajaram. Diversos
organismos se engajaram. Nós não podemos voltar atrás, nós sabemos que
as eleições municipais, elas são sempre mais tensas, são mais
localizadas, elas são naquele âmbito mais familiar, mais próximo. Então
normalmente as eleições municipais elas são mais disputadas, são mais
tensas e também por nossa parte existe o desejo de darmos uma
orientação da boa escolha daqueles que hão de cuidar do município, hão
de cuidar da nossa cidade.
Folha/UOL: Embora sejam eleições municipais, às vezes
aparecem temas nacionais nessas eleições. Temas como, por exemplo,
surgiram na eleição passada, que era mais ampla: aborto, casamento
entre pessoas do mesmo sexo devem fazer parte também do debate das
eleições municipais?
Dom Leonardo: Deve fazer parte do debate das
eleições municipais sempre aquilo que diz respeito à pessoa humana, ao
direito da pessoa humana, ao cuidado da pessoa humana. Isso sempre deve
entrar. Deve entrar no debate também o respeito à pessoa humana, então
[deve entrar] a questão da corrupção. A questão da ficha limpa.
Inclusive, é um desejo do Tribunal Eleitoral [do Tribunal Superior
Eleitoral] fazermos um trabalho em conjunto neste ano alertando a
população para que realmente vote bem, não deixe comprar o seu voto,
que é um elemento importante, não deixar comprar o voto. Não vender o
voto. [Não] vender a dignidade. Esses elementos, porque dizem respeito
à pessoa humana, sempre terão que entrar no debate [das eleições].
Folha/UOL: É legítimo que um candidato a prefeito de uma
cidade também apresente como tema de discussão, se ele ou seus
adversários, têm posições a respeito de liberalizar o aborto, por
exemplo?
Dom Leonardo: Sempre o debate ele tem que ser
livre. As pessoas podem e devem ter o direito de expressar suas
concepções. O que infelizmente acontece muitas vezes é que os
candidatos realmente não expressam suas posições e concepções, o que
não ajuda o eleitor. O que não ajuda o eleitor. Ajuda muito o eleitor
quando ele coloca as questões, se ele coloca a questão do aborto, se
ele coloca a questão da corrupção. Mas não só para o momento para
angariar voto, mas como uma questão realmente política, como o cuidado
pela cidade… A palavra “polis” do grego, política. Esse cuidado pela
população. Então eu penso que seria muito positivo que os candidatos
colocassem também as suas ideias quanto a isso, e os eleitores, ao
menos os católicos, sabem [quais são] as orientações dadas pelos
bispos, pela Igreja Católica.
Folha/UOL: Em 2010 foi um debate muito acalorado a respeito
de temas como esse na disputa presidencial. A então candidata Dilma
Rousseff, agora presidente da República, se manifestou, fez
compromissos com grupos religiosos, inclusive com a Igreja Católica. Ao
longo do governo dela agora, que já tem mais de um ano e meio, alguns
grupos religiosos acham que ela não está seguindo exatamente aquilo que
prometeu durante a campanha. Qual é a sua opinião?
Dom Leonardo: Abertamente, não tem aparecido essa
questão. Ela [a presidente] não tem se pronunciado abertamente.
Naturalmente, a CNBB estranhou quando foi nomeada a ministra para os…Folha/UOL: Secretaria Especial das Mulheres. Eleonora Menicucci.
Dom Leonardo: Isso. Nós estranhamos. Houve,
inclusive, manifestação de um ou outro bispo. Nós, como CNBB, nos
manifestamos através de uma carta dirigida à presidente. Em público,
não tem aparecido. O que tem aparecido é o que foi decidido agora pelo
Supremo [Supremo Tribunal Federal] da questão dos anencéfalos. E está
parecendo essa questão em relação ao Código Penal. Então nós
continuaremos a nos manifestar como CNBB como sempre nos manifestamos a
favor da vida. No futuro, muito no futuro, certamente haverão de
reconhecer de que a CNBB defendeu aquilo que é de mais precioso: a
pessoa humana desde o início até ao fim.
Folha/UOL: Sobre a atuação específica da presidente Dilma
Rousseff. Ela deveria ser mais proativa a respeito desses temas e ter
uma posição mais conhecida? Uma ação mais específica?
Dom Leonardo: Talvez nós gostaríamos que assim
fosse. Agora, não sei se a tarefa de alguém que hoje está à frente da
nação brasileira, como governo, como presidente está se manifestando
muito a respeito porque ela é presidente de toda uma população. Ela é a
presidente do Brasil. E nós sabemos da diversidade de pensamentos que
existem. Então, o que nós podemos dizer das conversas que tivemos com
ela é de um respeito muito grande pela vida. E nós sabemos também que,
internamente, do governo também existem as tensões que são normais.
Folha/UOL: O sr. mencionou a decisão recente do Supremo
Tribunal Federal autorizando a prática do aborto quando há comprovação
de fetos anencéfalos. O Supremo Tribunal Federal tomou uma boa decisão
nesse caso?
Dom Leonardo: Nós tivemos a nítida sensação de que
começamos a descartar a pessoa humana. E creio que também o enfoque
dado não foi um enfoque muito coerente. Por exemplo, de achar que essas
crianças já estão mortas no útero materno. Naturalmente, quando a
criança morreu no útero materno nós não estamos falando em aborto. Nós
só estamos falando em aborto quando a criança é viva, ela está viva. E
nós temos experiências muito interessantes de que depois mesmo do parto
ainda sobrevivem um determinado tempo. Nós já nos pronunciamos a esse
respeito e, inclusive, nos manifestamos em nota e também já estivemos
com alguns dos ministros onde depois conversamos com muita liberdade
sobre o assunto, com muito respeito.
Folha/UOL: Código florestal: o governo tem, de acordo com a
sua compreensão, atuado de maneira correta na condução da aprovação do
Código Florestal no Congresso?Dom Leonardo: Pessoalmente, eu esperava mais do governo. Naturalmente, o jogo político no Congresso não é simples. As forças que ali dentro estão… Não é tão simples. Mas nós, como, CNBB nós gostaríamos que, realmente, nós tivéssemos um Código Florestal.
Código significa um modo de relacionamento com a natureza. Nós
teremos leis, mas elas não garantem o nosso futuro. E o pior, no meu
modo de ver, não garantem uma relação nova, efetiva, equilibrada com a
natureza. Então, a sensação que temos agora, ainda existem muitas
discussões, de que provavelmente a proposta do Governo, que foi uma
proposta, assim, tentando manter um determinado equilíbrio deve passar,
ao menos no Senado. Mas, o Código como está, no meu modo pessoal de
ver, agora eu não quero fazer nenhuma afirmação em nome da CNBB, é
insuficiente para o nosso futuro.
Folha/UOL: No ano que vem, haverá Jornada Mundial da
Juventude, que será no Rio de Janeiro com a presença, inclusive, do
Papa Bento XVI. O Brasil está preparado para receber a Jornada Mundial
da Juventude, do ponto de vista da infraestrutura do Rio para receber
um evento desse porte?
Dom Leonardo: Ainda não está preparada.
Folha/UOL: O que está faltando?
Dom Leonardo: Está faltando… Agora já temos a
decisão de onde será a vigília com o santo padre e também a missa com o
santo padre. Já está decidido. Precisa agora é criar toda a
infraestrutura do local. Já começamos agora no mês de julho as
inscrições. Os grupos já podem se inscrever. Só podem se inscrever
grupos vindos dos outros países e também do Brasil. O que já está
bastante bem organizado é a peregrinação da cruz, que também faz parte
do ícone de Nossa Senhora, que faz parte da jornada. Já está
caminhando, já há meses, desde o ano passado. Caminhando bastante bem.
Bastante bem não, está caminhando muito bem. O Rio de Janeiro e a
Arquidiocese do Rio de Janeiro têm feito um esforço muito grande de
organizar no Rio de Janeiro porque será organização de hospedagem, de
recepção, de transporte. O diálogo entre a diocese do Rio de Janeiro, a
Arquidiocese do Rio, o governo estadual e a prefeitura caminha bem.
Também com o Governo Federal. Mas ainda existem alguns gargalos,
principalmente em relação à infraestrutura, por exemplo, do meio de
transporte do Rio até Santa Cruz, onde será a celebração. Naturalmente
os jovens andarão alguns quilômetros porque faz parte. A ideia é,
realmente, de ser uma peregrinação. Não só uma festa, um encontro.
Creio que estamos caminhando muito bem, mas ainda faltam alguns
elementos. Mas nós ainda temos um tempo.
Folha/UOL: Isso depende dos governos locais do Rio e da prefeitura do Rio, é isso?
Dom Leonardo: Mas também de ajuda do Governo
Federal. Nós sabemos que para Olimpíada e Copa do Mundo nenhum governo
estadual ou municipal dará conta, assim também [é] em relação à Jornada.
Folha/UOL: Dom Leonardo Steiner, muito obrigado pela sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Dom Leonardo: Eu que agradeço a oportunidade e um bom trabalho.
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